Battlefield 6 explode em audiência no beta — mas junto vieram os cheats: por que tão cedo?

Cheats surgem rápido em betas por explorarem dados em tempo real e técnicas maduras; anti-cheats reduzem, mas a guerra é contínua desde o dia 1.

Battlefield 6 explode em audiência no beta — mas junto vieram os cheats: por que tão cedo?

O beta de Battlefield 6 explodiu em audiência — centenas de milhares de jogadores em poucos dias — e onde há massa, há incentivo. Com picos acima de 400–470k de usuários simultâneos no fim de semana, a janela de testes virou um alvo perfeito para quem desenvolve cheats. A EA diz que o Javelin, anti-cheat de Battlefield, bloqueou mais de 330.000 tentativas de trapaça nos primeiros dias, enquanto a comunidade reportou dezenas de milhares de casos (44k no primeiro dia; +60k no segundo). Isso prova que o problema aparece cedo — e em volume. Isso não é um problema exclusivo de Battlefield, no entanto. Recentemente, também vimos o mesmo acontecer no Beta de Call of Duty: Black Ops 6.

Tecnicamente, os criadores de cheats não precisam decifrar o código-fonte completo para criar ferramentas que funcionem num beta. A maior parte do que um cheat precisa está em tempo de execução: posições, estados e rotinas já carregadas na memória do cliente. Métodos como leitura de memória em tempo real, injeção de código no processo do jogo e interceptação das APIs gráficas ou de input permitem extrair ou manipular esses dados sem acessar o repositório do jogo.

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Além disso, os desenvolvedores de cheats reutilizam estruturas já testadas: engines comuns, middleware, estruturas de rede e pontos de renderização tendem a ser familiares — muitos jogos usam bibliotecas semelhantes, ainda mais, quando falamos de franquias já conhecidas que, por obviedade, reutilizam seus engines, o que reduz a curva de engenharia reversa. Além disso, o beta oferece servidores cheios e tráfego real para validar exploits (posição, latência, sincronização). O mercado de cheats e a prática de “cheat-as-a-service” aceleram a entrega de ferramentas prontas para novos jogos.

Anti-cheats de kernel e exigências como Secure Boot (usadas por Javelin) complicam muito a vida dos trapaceiros, pois limitam drivers não assinados e alguns vetores de rootkit. Ainda assim, nada é infalível: soluções em nível de kernel têm trade-offs (compatibilidade, risco de estabilidade/privacidade) e formas avançadas de evasão já estão se tornando prática comum entre os devs de cheats. Em suma: aumentar a barreira funciona, mas não elimina a necessidade de detecção ativa e atualização contínua.

A combinação de anti-cheat, telemetria comportamental, detecção por inteligência artifical e triagem humana via denúncias da comunidade é o que pode ser feito.

Resumindo, cheats surgem rápido em betas porque, em geral, exploram informação já disponível em tempo de execução e reutilizam técnicas maduras. Anti-cheats fortes e arquitetura de servidor correta reduzem o problema — mas a natureza dinâmica do ecossistema significa que a guerra começa no dia 1 do beta e nunca se resolve definitivamente, e só pode ser “tratado” por atualizações constantes e banimentos.

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Autor do Artigo Ericki Chites
Fundador e jornalista do CineVício. Programador nas horas vagas (ou vice-versa), fã declarado de Breaking Bad e apaixonado por cinema e séries desde sempre. Transformei meu vício em cultura pop em trabalho — e sigo escrevendo, codando e comentando sobre tudo isso por aí.