Longlegs e O Mundo Assombrado pelos Demônios

Título: Longlegs – Vínculo Mortal
Diretor: Oz Perkins
Elenco principal: Maika Monroe, Nicolas Cage
Ano de lançamento: 2024
Gênero: Drama, Suspense

Em Longlegs, um homem solitário se encontra preso em uma realidade onde o tempo parece perder seu significado. Enquanto lida com a apatia e a desesperança, ele embarca em uma jornada introspectiva em busca de propósito em meio ao vazio, enfrentando seus próprios demônios internos e o peso esmagador da passagem do tempo.

Longlegs é um daqueles filmes com a estética característica da produtora “A24”, vendendo-se como terror, mas hesitando em explorar o gênero. Assume-se como um thriller/suspense, porém, perde-se na narrativa inicial de terror. O filme embarca na nova onda cinematográfica que “homenageia” os clássicos das décadas passadas, mas acaba se perdendo nessa homenagem, transformando-se quase em um “soft reboot” de filmes como Seven e O Silêncio dos Inocentes.

Como mencionei no início, o filme propõe-se a ser de terror, mas evita abraçar o gênero ao longo da trama, marginalizando o personagem Longlegs, interpretado brilhantemente por Nicolas Cage. Ademais, falha em ser um suspense/thriller ao adotar explicações sobrenaturais para uma trama que inicialmente parecia complexa, similar a Zodíaco.

Análise Temática

Longlegs é mais do que apenas um filme que mescla suspense e terror com ótimas atuações. Também traz à tona a terceirização da culpa e dos maus atos para figuras ou elementos místicos e/ou sobrenaturais, mostrando ao espectador que não somos criminosos, selvagens ou até mesmo psicopatas (condição neurológica), mas que nossos atos podem ser atribuídos a possessões ou assombrações demoníacas.

Carl Sagan, em meio ao pânico moral e ao “Satanic Panic”, teve a epifania de escrever um tratado sobre a relação humana com o desconhecido, abordando temas como teorias da conspiração, alienígenas e o pânico satânico. Ele reflete:

“É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão”, destacando que é mais produtivo trazer esses assuntos para uma discussão racional do que culpabilizar seres invisíveis ou inexistentes.

Não me interprete mal, eu sou católico e achei muito sintomático o uso de uma freira como o “cavalo” de Satã, na figura de Ruth Harker, mãe da agente Lee Harker.

Personagens e Enredo

No filme, temos uma figura sombria (Longlegs, interpretado por Nicolas Cage), que me lembra a figura igualmente obscura de Tiny Tim, conhecido por cantar a sombria canção “Tiptoe Through the Tulips”. Esse homem, além de confeccionar bonecas idênticas a figuras humanas, serve ao demônio ceifando vidas e destruindo famílias inteiras, aparentemente felizes e normais, para oferecê-las a Satã.

Em uma de suas visitas, ele conhece Lee Harker, uma doce menininha que pretendia matar, mas sua mãe se oferece como “agente da morte” em troca da vida da filha. Assim, Ruth passa a vida indo de lar em lar vestida de freira, dizendo estar a mando da Igreja para entregar um presente: uma boneca perfeita, contendo um feitiço que faz o patriarca da família matar todos os membros.

Comparações e Influências

O grande desafio era entender como Longlegs poderia ser o assassino de todas essas famílias, visto que as datas, horários e endereços não coincidiam. Em todas as cenas do crime, no entanto, havia sua assinatura. Como mencionei anteriormente, o filme tenta emular obras como Seven e O Silêncio dos Inocentes, e em certos momentos lembra até mesmo True Detective, com a “intuição quase sobrenatural” de Lee, que evoca Rust da primeira temporada da série, além da passagem de tempo um tanto confusa e de um personagem que, embora pouco apareça, é assustador.

A culminação do filme ocorre no confronto final, semelhante ao que acontece em True Detective. Ainda assim, o longa é eficaz em construir um personagem sombrio que desperta o desejo de mais tempo em tela por parte do espectador. Não podemos, é claro, esquecer da personagem Lee Carter (Maika Monroe), que, embora não supere a apoteótica atuação de Jodie Foster, entrega uma performance profunda e humana.

Aspectos Técnicos

Um elemento importante para um filme atmosférico, como Longlegs, é a fotografia, que pode envolver ou distanciar o espectador da trama. Aqui, a direção de fotografia dá um show à parte.

Conclusão

Em suma, Longlegs poderia ter assumido um lado mais voltado ao thriller e nos dado mais daquele Cage maníaco que nos fascinou, ou poderia ter abraçado o sobrenatural, deixando de lado o ceticismo investigativo do FBI. O filme entra na minha lista de filmes soturnos para se assistir em uma noite tranquila. Certamente, você será envolvido pela trama e imerso em uma atmosfera sombria e densa, que o conduz por um caminho intrigante, ainda que sem um destino definido.

Nota: 3/5

Por: Danilo Charlie