Quem são os ‘Eternos’ que receberão um filme da Marvel ainda este ano?
Desde que trabalhou com Thor, nos anos 60, Jack Kirby era muito interessado pelo conceito de alienígenas serem considerados deuses pelos terráqueos. E com o sucesso do livro “Eram os Deuses Astronautas?”, de Erich von Däniken, essa ideia tomava cada vez mais forma na mente do visionário desenhista. Ele apresentou, em meados dos anos 70, um conceito parecido para a Marvel, aprovado em seguida por ela para uma serialização, onde a Terra havia sido visitada no começo das eras por uma raça cósmica chamada de Celestiais, que viajavam por vários planetas para avaliar as formas de vida da galáxia, em suas chamadas “expedições”, que ocorreram em quatro momentos distintos ao longo do tempo. A primeira expedição na Terra ocorreu há cerca de um milhão de anos atrás e fez experimentos com os seres humanóides que povoavam nosso planeta nessa época. Foram criados, então dois tipos de seres. Os Deviantes, que receberam uma mutação instável, que fez com que um ser sempre fosse completamente diferente do outro, e tivesse uma forma bizarra, foram abandonados como uma experiência falha pelos Celestiais, e os Eternos, que receberam uma genética superior, mantiveram a aparência humana e desenvolveram poderes cósmicos.
Os Eternos, reconhecendo que suas habilidades assustariam os humanos, se refugiaram no alto de montanhas, onde se ocuparam em ampliar seus conhecimentos e aprimorar seus poderes. Já os Deviantes, irados com a forma como foram abandonados, se refugiaram em um lugar construído por eles, a Lemúria, onde eles também evoluíram tecnologicamente, a ponto de investirem e conseguirem dominar os humanos.
Quando houve a Segunda Expedição, os Celestiais encontraram os humanos escravizados pelos Deviantes. Os Celestiais foram desafiados pelos Deviantes e mataram quase todos eles. Os sobreviventes se refugiaram numa cidade subaquática e lá eles começaram a tramar novos planos para uma nova investida contra os Celestiais. Após isso, os Deviantes acabaram entrando no imaginário dos humanos como a representação dos demônios nas religiões.
Quando a Terceira Expedição chegou, os Celestiais foram venerados como deuses pelos humanos, principalmente pelos Incas, cuja mitoligia foi toda baseada neles.
Enquanto tudo isso acontecia, os Eternos continuaram com suas vidas nas montanhas, a maior delas OLYMPIA, onde o poderoso Zuras liderava. Eles pouco interagiam com os homens, mas sempre que um deles interagia, acabava sendo interpretado como um Deus.
Existem vários Eternos espalhados pelo mundo, mas os principais deles, que vivem em Olympia, são os que aparecem na história do Kirby. São eles:
- Zuras, o líder dos Eternos. Desenvolveu sua capacidade de projetar energia cósmica de várias formas (calor, eletricidade, etc.) além de qualquer outro eterno Zuras foi o primeiro Eterno a formar a Uni-Mente (técnica dos Eternos onde eles se fundem em um super ser capaz de se conectar com todas as coisas e seres vivos do universo).
- Ikaris o principal herói dos Eternos, tem inúmeras capacidades, como superforça, visão de calor e vôo, além de ótima perícia em combates corpo-a-corpo. Enfrentou vários desafios ao longo da vida, inclusive os Deviantes, e é um dos Eternos que se infiltra por anos entre os humanos para conhecer mais sobre sua cultura e sobre o que eles sabem a respeito dos Celestiais.
- Sersi, que manipula moléculas e átomos. Vive entre os homens a muito mais tempo que Ikaris. Ela se tornou famosa na mitologia grega através de seu encontro com Odisseu . Sersi prefere viver entre humanos e gosta de dar festas.
- Makkari, que domina a velocidade. É genioso e gosta de desenvolver diversas armas e equipamentos para os Eternos.
- Thena, uma das primeiras filhas de Zuras, é exímia guerreira e uma das principais defensoras de Olympia. Tem superforça e é muito ágil. Sua coragem é conhecida tanto entre os Eternos quanto entre os Deviantes. Ela tem uma relação amorosa com Kro, um dos líderes Deviantes, que o Kirby começa a explorar em sua fase mas não teve muito tempo para desenvolver.
- Ajak, eterno que viveu entre os Incas, onde foi idolatrado como um deus e foi o principal responsável por difundir a história sobre os Celestiais entre aquele povo, fazendo com que eles idolatrassem e estudassem os Celestiais.
- Duende, tem a aparência de um menino. Adepto em manipular a matéria, com um foco particular na autotransformação. Gosta sempre de pregar peças e assustar os outros Eternos.
Os Deviantes na fase do Kirby são pouco explorados, exceto por Kro, um dos líderes, o Rejeitado, um Deviante que nasceu com aparência humana e foi escravizado pelos seus e Karkas, um ser grande e muito poderoso, apesar de ignorante, também um escravo. Quando a eterna Thena recebeu um convite de Kro para visitar seu povo, ela presenciou um espetáculo onde os Deviantes colocaram dois dos seus para duelarem entre si para puro entretenimento, Rejeitado e Karkas. Thena fica fascinada com a beleza de Rejeitado em com a perspicácia de Karkas e resolve levá-los consigo para Olympia. Ela dá um discurso inflamado para os Deviantes sobre o preconceito deles para com os seus e parte com seus dois protegidos. Esses dois em outro momento começam a fazer missões disfarçados na Terra, a mando de Thena.
Quando os Celestiais chegam novamente à Terra, eles a princípio não agem, somente ficam parados, analizando a Terra e seus habitantes, para decidir se exterminariam a vida ali ou os deixariam em paz. Mas isso apavora todas as três raças.
A principal meta dos Deviantes nessa fase é criar uma arma que possa destruir os Celestiais, enquanto os Eternos tentam um meio de negociar com seus criadores para que eles deixem o planeta. Há várias batalhas entre os Deviantes, que querem “tocar o rebu” e apavorar os humanos para que haja uma grande guerra e os Eternos, enquanto os principais líderes governamentais decidem atacar os Celestiais com suas maiores armas. Há uma enorme dificuldade para os Eternos conseguirem manter a paz em meio a todo o pandemônio que se segue, mas eles conseguem começar a controlar a situação.
Infelizmente, pouco após isso, os editores da Marvel começam a fazer pressão para que Kirby deixe a história com mais cara de Marvel, que integre o universo dos Eternos ao dos heróis da casa das idéias, e quando o Kirby começa a ceder a algumas exigências a série perde qualidade, a história principal se perde em histórias fracas, pouco interessantes, e a série acaba sendo cancelada, sem que possamos vislumbrar tudo que o autor preparava para a obra.
Ao longo dos anos a Marvel tentou retornar com o título em diversas outras ocasiões, mas sem o gênio de Kirby por trás das histórias, todas as tentativas falharam e os Eternos foram para a geladeira por anos, até que no começo dos anos 2000, Neil Gaiman foi chamado para dar nova vida à toda a mitologia dos Eternos, em uma mini série os reintegraria à cronologia Marvel, pouco após a Guerra Civil. Como um grande fã de Kirby e de seus Eternos, Gaiman aceitou prontamente.
Tentando ser respeitoso com a obra original e ao mesmo tempo reinventando o mito dos Eternos, Gaiman segue a partir de onde Kirby parou, mas com um visual reformulado e com a arte competente de John Romita JR.
A série conseguiu cumprir seu propósito e apesar de uns pontos negativos, foi boa. Mas ela não foi bem aceita pelo público em geral. A série começa com Ikaris tentando convencer um estudante de medicina de que ele é na verdade Makkari, mas que ele perdeu a memória e têm vivido como humano há anos. Após alguns debates, essa história de amnésia se prova verdadeira. Temos um breve comentário a respeito do que aconteceu após o fim da fase Kirby, nos é explicado que todos os Eternos perderam a memória e vivem como seres humanos, e a missão de Ikaris e Makkari é reencontrar seus irmãos e ajudá-los a se lembrar de quem são, mas Makkari não quer nada disso, queria seguir com sua vida humana, e temos toda uma jornada de aceitação da parte dele e de Sersi. Os Eternos têm que se reunir para novamente encarar os Deviantes, agora infiltrados como líderes e pessoas influentes do mundo todo, e uma nova incursão dos Celestiais. Os Deviantes agora idolatram o Celestial Sonhador, pois segundo eles, esse Celestial foi quem criou-os. A série segue coerente, mostrando a vida que os Eternos construíram enquanto se achavam sem memória, Romita cria uma nova justificativa para a imortalidade dos Eternos e mostra que os Deviantes estavam secretamente caçando Ikaris para tentar matá-lo. Makkari aqui é um arauto dos Celestiais, que busca mostrar ao mundo que o julgamento é algo inevitável. É dito que o Sonhador criou o Makkari pessoalmente, para que ele servisse aos Celestiais. A história segue narrando a caçada dos Deviantes aos Eternos, enquanto Ikaris e outros buscam seus companheiros sem memórias. Há muito debate sobre a aceitação do que se é, e isso é muito interessante. Sersi é uma promotora de eventos quebrada que, quando finalmente consegue uma chance de se destacar no ramo com o negócio da sua vida, se vê tendo que aceitar seu passado esquecido e encontra muita dificuldade nisso. Vale salientar que Ikaris nunca força um Eterno a recuperar suas memórias, ele explica a situação e a decisão sobre retomar sua vida antiga cabe aos próprios Eternos. A série segue nesse ritmo até que entramos na parte final, onde os problemas se resolvem e têm uma conclusão para a história, que realmente não vai agradar todo mundo, mas foi coerente. Em meio a tudo isso nos é explicado o motivo dos Eternos terem perdido a memória, e esse assunto se resolve aos poucos. No fim a história acaba com Sonhador ainda julgando a Terra e com Zuras convocando Ikaris e Makkari para buscar outros Eternos ao redor do mundo que ainda não recuperaram sua memória.