Uma crônica sobre os 20 anos do 11 de setembro e algumas dicas

Era uma manhã normal de terça feira, por algum motivo que eu não me recordo eu chegava da escola mais cedo. Quando eu ligo a TV para assistir os desenhos animados e me deparo com a tão temida vinheta da Rede Globo aonde o jornalista Carlos Nascimento anunciava que uma das torres gêmeas do edifício World trade center em Nova York havia sido atingida por um avião. A lembrança que tenho nítida era a confusão que pairava no ar, pois ninguém sabia ainda o que de fato estava acontecendo pois a primeira torre atingida (torre norte) foi às 08:46 e a segunda (torre sul) às 09:03 e foi justamente essa a primeira desabar levando consigo milhares de vidas. Posteriormente a hipótese de atentado terrorista veio à ser confirmada e fora comandada pela Al Qaeda tendo como cabeça o terrorista Osama Bin Laden.

Aquela manhã pra mim foi muito confusa, pois foi a primeira vez que que tive contato e presenciei ao vivo o que era o ser humano e como não havia limites para a maldade. Perguntei ao meu pai se eram cenas de algum filme ou algum acidente, mas a ideia de que pessoas teriam a capacidade de fazer algo daquele tipo simplesmente não conseguia entrar em minha mente.

De repente minha mãe chega e diz que deveríamos nos arrumar e subir para a casa da minha bisavó pois grande parte da família estava indo pra lá fazer contato com a Tia Hilda. E aqui cabe o contexto; em 2001 o mundo era outro, esqueça tudo o que você entende por tecnologias desde a mais ultrapassada (SMS) até a mais moderna (Whatsapp) pois em 2001 a comunicação entre indivíduos do mesmo estado era algo extremamente difícil, quiçá de outro país, quiçá de outro país em estado de guerra.

Mas voltando à reunião urgente na casa de minha bisavó; subimos a rua e ao chegar na casa dela lembro de ver pessoas que eu só via em dia de festas, casamentos e velórios e o motivo era que minha tia Hilda morava na ocasião em San Francisco (Califórnia) e ela era alguém muito estimada por todos e ao sabermos da gravidade dos ataques e a possibilidade de uma guerra em solo americano, tratamos de tentar de todas as formas um contato com ela pra saber notícias. Lembro do meu tio tentar incansáveis vezes o contato mas as linhas estavam ocupadas e ninguém atendia, até que em dado momento uma jovem atende aos prantos em inglês, meu tio por outro lado não entendia nada de inglês e minha prima de segundo grau tomou o telefone e com um “embromeichon” pediu pra passar o telefone para a Tia que atendeu prontamente: “Vivo aqui desde 69, já passei por preconceito por conta da cor de minha pele, já vi rebeliões e todo o tipo de coisa, mas nada se compara a isso! À depender dos ânimos voltarei ao Brasil”.

Essas foram as palavras de uma mulher negra brasileira que vive nos EUA desde os anos 60 e que até hoje está viva, mas ao contrário do que disse ela nunca voltaria ao Brasil para morar e sim passear.

Toda essa introdução com um relato pessoal foi para tentar ilustrar aos jovens que compõe grande parte dos nossos leitores um pouco do que foi viver é presenciar esse acontecimento, o mundo de fato se dividiu antes e pós 11 de setembro, toda a guerra ao terror e os investimentos bilionários que os EUA colocou nisso, não deu em nada como vimos mês passado as retiradas catastróficas das tropas americanas do Afeganistão, um retrato do que foi à guerra ao terror, e como o site é sobre cultura pop e não geopolítica é com Guerra ao terror.

Portanto eu vim aqui destacar ótimas obras da ficção que retratam os atentados de 11 de setembro. Que eu sou um grande fã de histórias em quadrinhos não é segredo pra ninguém, e foi justamente os quadrinhos a primeira mídia a retratar aquela tragédia em:

The Amazing Spider-Man #36

Pouco antes dos atentados de 11 de setembro a Sony havia lançado um teaser do filme do Homem aranha com Tobey Maguire aonde bandidos fogem em um helicóptero e terminam presos em uma teia gigante, justamente entre as torres gêmeas, o teaser foi removido e o motivo dessa remoção estaria em The Amazing Spider-Man 36 uma história do teioso complementarmente atípica aonde todos os heróis da Marvel se unem, não para outra contra um mau comum e sim para tentar ajudar os bombeiros (os verdadeiros heróis) no resgate de vítimas do 11 de setembro, essa história por mais simplista que possa parecer é uma das histórias mais importantes da Marvel ao meu ver, aonde a fragilidade humana é colocada em jogo, heróis não são heróis e sim humanos e o lugar de heroísmo é dado àqueles que dia após dia verdadeiramente salvam vidas mas são ofuscados. Um fato interessante nessa história é como os civis culpam o homem aranha pela omissão e isso de fato faz o teioso se sentir culpado, um fator que viria marcar a década; uma busca incessante por culpados aonde não existe um especificamente.

A edição é escrita pelo roteirista J. Michael Straczynski e desenhada pelo desenhista John Romita Jr e atualmente você pode ter acesso à essa história no volume 2 de Marvel saga homem aranha.

Capitão América O Novo Pacto

O Capitão América é o maior símbolo de patriotismo americano depois do Tio Sam, isso é um fato! Mas como vimos recentemente em Falcão e o Soldado Invernal até mesmo o mais patriota dos heróis já contestou o governo, na série o capitão a fazer isso é o Sam Wilson mas nas HQ’s Steve Rogers também já fez isso, e foi em “O novo pacto” que esse fator foi levado à debate, na época do lançamento a HQ foi extremamente controversa gerando um misto de elogios até uma revolta pela forma que o roteirista tratou os eventos de 11 de setembro e seus culpados. Imagine que você é um soldado. Um patriota. Mais do que isso: é o símbolo vivo de um país. O ícone de uma cultura, a referência de um povo. Agora, imagine que seu país e tudo aquilo que você representa, a verdadeira essência de sua alma, foi covardemente atacado. O que você faria? Como reagiria? Este é o dilema de Steve Rogers, o homem por trás da máscara do Capitão América, precisa enfrentar após os ataques terroristas de 11 de setembro.

A edição é escrita por John Ney Rieber e desenhada por John Cassaday e atualmente você encontra disponível na coleção Salvat volume 27.

The Looming Tower

Bem, aqui precisamos falar da série mas eu super recomendo o livro (cuja a resenha está disponível aqui feita por mim https://youtu.be/qVnFNharnsM). Em The Looming Tower acompanhamos o embate entre as agências do governo norte americano CIA e FBI pelo monopólio da informação, Jeff Daniels interpreta brilhantemente John O’ Neill responsável pelo FBI que junto de seus colegas Ali Soufan (Tahar Rahim) um libanês e Robert Chesney (Bill Camp) vivem sob uma apreensão constante de um iminente ataque aos EUA, com isso eles travam uma batalha profunda contra uma rede internacional de terroristas, porém a sua maior batalha talvez seja interna, no âmbito nacional com brigas por ego e protagonismo a série traz muito do livro de Lawrence Wright mas se aprofunda na questão da rivalidade entre instituições. Esquece o dia fatídico, aqui a série está pouco preocupada com os atentados em si e sim com os fatores que levaram a tal.

A série foi criada e idealizada por Dan Futterman, Alex Gibney e Wright. Ela possui 10 episódios e você encontra no serviço de streaming Amazon prime vídeo

Fahrenheit 9/11

Em Fahrenheit 9/11 temos um documentário que assume uma posição sobre os atentados de 11 de setembro, e é uma posição critica à todas as ações do governo de George W. Bush para evitar o atentado de 11 de setembro e os eventos posteriores da tão falada “Guerra ao Terror” deflagrada em resposta aos ataques. Michael Moore também nos dá um panorama sobre a atuação da imprensa na apuração de informações confidenciais do governo norte americano com uma ênfase na existência de armas de destruição em massa no Iraque.

A direção fica por conta do documentarista Michael Moore e você acha facilmente disponível no youtube.

A Hora Mais Escura

Passado os atentados de 11 de setembro o governo americano tinha uma missão que não poderia ser corrompida; a missão de encontrar, capturar e matar Osama Bin Laden. Maya (Jessica Chastain) é uma agente da CIA que está por trás dos principais esforços em capturar Laden, por ter descoberto os interlocutores do líder do grupo terrorista. Com isso ela participa da operação que levou militares americanos a invadir o território paquistanês, com o objetivo de capturar e matar bin Laden. O filme além de explorar a caça ao terrorista mais famoso da história, ele também trás uma mulher como protagonista em uma trama militar, o filme foi vencedor do Oscar e é uma das melhores obras sobre o tema.

Direção de Kathryn Bigelow e Roteiro de Mark Boal, o filme se encontra disponível na Netflix.

Guerra ao terror

Como o próprio título sugere o filme trata da guerra ao terror travada no Oriente médio, mas aqui a brilhante diretora de a hora mais escura, Kathryn Bigelow nos trás uma história dentro da história e nos mostra um lado dessa moeda que no fundo sabemos que existe, discordamos dele mas ignoramos para fingir que está tudo bem; o dia a dia dos soldados americanos e o estrago que essa guerra causou em suas vidas, JT Sanborn (Anthony Mackie), Brian Geraghty (Owen Eldridge) e Matt Thompson (Guy Pearce) integram o esquadrão anti-bombas do exército americano, em ação em pleno Iraque. Eles trabalham na destruição de um explosivo, fazendo com que seja detonado sem que atinja alguém. Entretanto, um erro faz com que o artefato exploda e mate Thompson. Em seu lugar é enviado o sargento William James (Jeremy Renner), que possui grande sangue frio em ação. Isto gera alguns desentendimentos com Sanborn, que o considera irresponsável. Apesar disto, o trio segue na ativa, tendo consciência de que cada dia concluído de trabalho é um dia a mais de vida.

Direção: Kathryn Bigelow, roteiro Mark Boal e o filme se encontra disponível na plataforma de streaming Amazon prime vídeo.

9/11 One Day In America

Imagine a sensação de ter vivido o 11 de setembro, imagine a sensação sufocante de ter estado presente nos escombros das torres gêmeas, pois assistindo 9/11 one day in america é isso que você terá, produzido pela National Geographic aqui você tem uma real experiência imersiva no dia 11 de setembro de 2001 em NY, com uma riqueza de imagens e filmagens exclusivas daquela manhã, somado à relatos tão fortes que são capazes de arrancar lágrimas até de um psicopata a série/documentário nos introduz na realidade daqueles civis que perderam suas vidas naquela manhã, há relatos aqui que voce se pega chorando sem nem perceber de tão forte que são, prepare o lenço e viva essa experiência

Produção National Geographic, disponível no serviço de streaming Starplus.

Vôo United 93

Em 11 de setembro de 2001 o vôo 93 da United Airlines é sequestrado por terroristas, que têm por objetivo abatê-lo junto a algum símbolo norte-americano. Durante 90 minutos o avião permanece no ar, sendo que neste período os passageiros decidem reagir para evitar que os planos terroristas sejam concluídos.

Direção Paul Greengrass e Roteiro de Paul Greengrass disponível no serviço de streaming do Telecine.

Bem essas foram algumas dicas que eu julgo como interessantes para conhecer melhor e lembrar essa data que ficará marcada para sempre na história da civilização ocidental. Mas se você quer conhecer mais sobre o 11 de setembro e mergulhar nas teorias e em reportagens que não são tão comentadas pela mídia brasileira eu recomendo esse podcast:

Aqui é tratado sobre assuntos pouco conhecidos como o PNAC, o documentário que os EUA não quer que você veja “9/11 50 Questions They Can’t Answer” e muito mais, modéstia à parte eu entendo relativamente bem sobre o assunto e trouxe alguns fatos à mesa nesse episódio. Esperamos que dias assim não se repita nunca mais e que a máxima “conhecer a história para não repeti-la” esteja no inconsciente coletivo para que os extremos não prevaleça.